sexta-feira, 6 de julho de 2012

Cocô: tudo o que você sempre quis saber.


Manter o olho atento sobre o cocô é uma maneira excelente de monitorar sua saúde. Alterações podem indicar desde uma alimentação errada até problemas graves, como câncer
por Alison Turner e Gustavo Simon
 
Do início ao fim
Antes de tudo, vamos ao básico (que você já deve conhecer): a comida entra pela boca, passa pelo estômago e por seus intestinos e chega à outra ponta, quando os resíduos não aproveitados, sob a forma de fezes, são enfim liberados. Mas do que é feito isso? E como aquela deliciosa massa com frutos do mar passou de algo apetitoso e cheiroso e virou... bem, virou cocô? Quando a comida chega ao estômago, ácidos digestivos e enzimas que quebram proteínas são liberados. As sobras escapam até o duodeno (a primeira parte do intestino), onde as enzimas do pâncreas são liberadas para quebrar mais proteínas, carboidratos e gorduras. Enquanto o alimento segue o caminho de 8 m pelo intestino delgado, a maior parte dos nutrientes é absorvida. Cá entre nós, tudo o que o intestino sabe fazer é separar nutrientes e água do restante — o trabalho maior é das 200 mil bactérias que passeiam por ele, quebrando tudo o que há para ser digerido.

No final de todo esse processo, que geralmente leva um dia inteiro, o que sobra do jantar são resíduos e coisas que seu corpo não digere, como fibras. Isso tudo forma um bolo fecal de cerca de 200 g — uma lata de conserva. Os restos caminham até o reto e, quando você senta no trono, vão embora.

Seus hábitos determinam a frequência, a quantidade e a qualidade das fezes. "Uma pessoa mantém o intestino saudável ingerindo pouca gordura, muitas fibras e água e fazendo atividade física", orienta o gastroenterologista Ricardo Barbuti, secretário da Federação Brasileira de Gastroenterologia. As fibras, aliás, têm um papel crucial — são elas que dão massa ao bolo fecal e estimulam o trabalho intestinal. "O consumo ideal é de 25 g por dia", diz a nutricionista Anna Christina Castilho, do Instituto de Metabolismo e Nutrição (IMeN). "Atingir a recomendação é fácil, basta consumir uma porção de alimentos integrais ou uma fruta por refeição."

 O que é normal
"Cada pessoa tem um padrão para evacuar, então é difícil estabelecer uma linha de normalidade", explica Barbuti. Um estudo britânico com mais de 2 mil pessoas, conduzido pelas universidades Enfermaria Real de Bristol e Canynge Hall, descobriu que há uma gama bastante ampla de "normalidade" nos hábitos intestinais. Isso quando falamos de aparência (há uma escala de 1 a 6, de massas duras e redondas a algo disforme e pastoso) e de frequência — de três vezes por dia a três vezes por semana. "O ideal é que se evacue no mínimo três vezes na semana, e que haja constância na consistência e na frequência", garante o gastroenterologista.

De forma geral, o que você deveria ver na privada é uma forma única e alongada, segundo o médico americano Anish Sheth, coautor de O Que Seu Cocô Está Dizendo a Você (Ed. Matrix, 96 págs., R$ 17,90). Pequenas bolinhas isoladas indicam falta de coesão da massa fecal — outro problema decorrente da falta de fibras. "As fibras ingeridas são fermentadas por bactérias do intestino e formam um ácido graxo gelatinoso, que atua como uma cola que previne contra o ressecamento e a fragmentação do cocô", diz Sheth.

Por outro lado, fezes compridas e finas estão longe do ideal. "Ocasionalmente todos podem vir a evacuar dessa forma", diz. "Mas geralmente é o esforço excessivo que provoca isso." E quando a coisa aparece ao longo de várias semanas pode indicar algo como câncer no reto — o tumor vai se expandindo e estreitando a cavidade do cólon.

Está boiando?
"O fato de as fezes flutuarem não é ruim", garante o gastroenterologista australiano Terry Bolin. "Isso significa que você está produzindo gases e consumindo fibras em quantidade suficiente." Os gases, afinal, resultam da ação das bactérias que quebram fibras e carboidratos no seu intestino — isso produz metano, hidrogênio e sulfeto de hidrogênio, responsável pelo cheiro ruim.

"Algumas pessoas produzem mais metano, outras produzem mais sulfeto de hidrogênio", esclarece Bolin. (É junto do segundo tipo de pessoas que você não quer ficar presa no elevador). O que determina em qual grupo você se insere depende do tipo de bactérias que você tem no intestino — e isso varia de acordo com a alimentação que sua mãe teve durante a gestação e com o que você comeu até os 7 anos. Mas, em relação ao cheiro das fezes, você tem o poder nas mãos. Proteínas produzem cocôs mais fedidos, assim como alho e cebola podem piorar as coisas.

Se as coisas ficam paradas...
Se as fezes estão longe de ser algo agradável, a falta delas é ainda pior. "O intestino é um órgão meio estúpido", diz a clínica-geral australiana Ginni Mansberg. Quanto mais tempo os resíduos permanecem lá, mais secos e duros eles ficarão.

A prisão de ventre (menos de três idas semanais ao banheiro) eventual não faz tão mal. O problema é quando ela é frequente. Por mais que a falta de fibras leve ao problema, o buraco pode estar mais em cima. "Na maioria das vezes, a causa é mais comportamental do que orgânica — a pessoa segura a vontade de evacuar por vergonha", explica o gastroenterologista Laércio Gomes Lourenço, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "Com o tempo, o intestino se acostuma." Significa que aquela história de ‘Eu não consigo ir ao banheiro fora de casa’ é a forma mais eficiente de criar um problema crônico na senhorita.

Para jogar o desconforto pelo ralo, não adianta agora se entupir de aveia — isso pode compactar ainda mais o bolo fecal. Apelar todo o tempo para laxantes menos ainda. "Eles têm substâncias carcinogênicas e componentes irritativos perigosos", diz Lourenço. Beber bastante água é o mais importante. "Os iogurtes probióticos também ajudam a recuperar a função intestinal", diz a nutricionista Anna Christina Castilho. Quando o problema passar, aí sim é hora de comer mais fibras.

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