segunda-feira, 26 de maio de 2014

O Sapo e a água quente.


Adapto aqui um texto enviado pelo advogado Renato Pacca, que atribui sua autoria a um gerente de uma agência bancária em São Paulo:

Vários estudos biológicos demonstram que um sapo colocado num recipiente com a mesma água de sua lagoa fica estático durante todo o tempo em que aquecemos a água, mesmo que ela ferva. O sapo não reage ao gradual aumento de temperatura (mudanças de ambiente) e morre quando a água ferve.
Inchado e feliz.

Por outro lado, outro sapo que seja jogado nesse recipiente com a água já fervendo, salta imediatamente para fora. Meio chamuscado, porém vivo!

Às vezes, somos sapos fervidos. Não percebemos as mudanças.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

"Fale sobre você" é pergunta temida em entrevistas: veja dicas.

Questão é feita para entrevistador ter noção de quem é o concorrente.
'Candidato deve vender o que o comprador está comprando', resume coach.

Do G1, em São Paulo
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Entrevista de emprego (Foto: Reprodução)Entrevista de emprego exige treino e
preparação (Foto: Reprodução)
A pergunta "Fale sobre você", tão comum nas entrevistas de emprego, favorece os candidatos que conseguem dizer ao recrutador o que eles consideram realmente importante na carreira deles, de acordo com Lee Miller, em artigo publicado na seção de carreiras do site Business Insider. “É uma questão que oferece oportunidade para descrever a si mesmo de forma positiva e focar a entrevista nos pontos fortes. A maioria dos entrevistadores começa entrevistas com essa pergunta para ter noção de quem é o candidato.”

De acordo com o consultor, há muitas formas de responder a questão corretamente e apenas uma maneira errada, que é com outra pergunta: "O que você quer saber?". “Isso me diz que o candidato não se preparou adequadamente para a entrevista e é suscetível de ser igualmente despreparado para o trabalho. É preciso desenvolver uma boa resposta para a pergunta, praticar e ser capaz de entregá-la com equilíbrio e confiança.”

A resposta certa deve focar no que mais interessa ao entrevistador, com destaque às realizações mais importantes. "O maior erro é pensar que o entrevistador quer saber sobre eles como pessoas”, diz Jane Cranston, coach de carreira de Nova York. “Mas o entrevistador quer saber o que o candidato pode fazer como profissional, se se encaixa no time, o que fez nas posições anteriores e como poderá ajudar na organização."

Nancy Fox, da Fox de Coaching Associates, observa que muitos candidatos, despreparados para a questão, recapitulam sua história de vida. Ela recomenda começar com o emprego mais recente e explicar por que é qualificado para a posição. De acordo com ela, a chave do sucesso é coincidir as qualificações com o que o entrevistador está procurando. "Em outras palavras, você deve vender o que o comprador está comprando."

A coach Melanie Szlucha diz que os gerentes de contratação não querem entrevistar candidatos despreparados, que acabam tendo que ler o currículo na frente deles. É preciso que sejam dadas informações para que o entrevistador possa fazer mais perguntas e, assim, tornar a entrevista interessante.

Segundo Miller, bem respondida, a questão coloca o candidato no “assento do motorista”. E dá oportunidade de vender a si mesmo, além de permitir que ele defina o tom e o rumo do restante da entrevista, abrindo caminho para responder às perguntas que ele mais espera.

Destaque as realizações mais importantes
Greg Maka aconselha os candidatos a emprego a contar uma história memorável sobre seus atributos. "Por exemplo, se você disser a um entrevistador que as pessoas descrevem-no como tenaz, uma breve história que mostre como você tem sido tenaz em alcançar seus objetivos é interessante. Histórias são poderosas e são o que as pessoas se lembram mais", diz ele.

Seja breve
Maureen Anderson, apresentador do programa de rádio "A Clínica da Carreira", diz que é importante dar uma resposta curta. "O empregador quer saber um pouco sobre você para começar, não a história da vida inteira. Apenas ofereça até duas ou três coisas interessantes e úteis. Deve-se levar cerca de um minuto para responder a essa pergunta."

Anderson aconselha a escrever a resposta antes da entrevista, praticá-la e ensaiá-la até que soe natural. Então praticá-la um pouco mais. “O objetivo é dizer ao empregador o suficiente para despertar o seu interesse, não tanto que ele se pergunte se um dia irá querer calar sua boca durante uma pausa para o café no escritório", brinca.

sábado, 10 de maio de 2014

Ferreira Gullar, o poeta do espanto.

Ferreira Gullar vive há mais de 30 anos no primeiro andar de um prédio antigo em Copacabana. De lá não arreda pé. "Nunca! Já pensou na quantidade de livros que teria que transportar? Só a trabalheira já me faz desistir." O poeta, aos 83 anos, mora só. A não ser pela gata siamesa que anda pelos cantos, invade sua cama e suas crônicas.
As paredes estão abarrotadas de quadros. Tem, entre outros, Iberê Camargo, Samico, Niemeyer e um desenho do filho Marcos, que já morreu. Há ainda obras de sua autoria, como os móbiles coloridos, em estilo Calder, e colagens em relevo, que serão expostas na galeria Dan em São Paulo. "Mas eu não sou artista plástico, faço por hobby", vai logo avisando. Pintar, recortar e colar - sobre a mesa de madeira escura que fica no centro da sala - é sua maneira de se abstrair de tudo. "Me delicio em fazer. Não tem corrupção, perdas, filho morto, amigos que se foram. Neste momento eu sou só um cara que lida com cores", costuma dizer.
Mas hoje teve de encarar um vazamento no banheiro que por pouco não dissipou as cores de sua segunda-feira. Depois de passar a manhã às voltas com o contratempo, largou o encanador e a gata, com sua mania de se esconder de estranhos, vestiu uma camisa listrada e veio caminhando para este "À Mesa com o Valor". O poeta é figura conhecida no La Trattoria. Os garçons sabem que o homem come pouco. Qualquer que seja o prato, o freguês traça apenas a metade. A outra ele leva para casa - "é minha quentinha". Vem daí seu apelido de "Meia Porção" - dado por sua namorada, a poeta carioca Claudia Ahimsa, 34 anos mais jovem.
Periquito, conta, é outro de seus apelidos. Mas esse é antigo que só. Vem lá dos tempos de garoto "nordestino/ mais que isso/ maranhense/ mais que isso/ são-luisense..." Moleque, gostava de vagabundear com seus amigos que respondiam pela alcunha de Esmagado e Espírito. O trio costumava jogar pelada, surrupiar copos de botequim e se enfurnar nos cinemas da cidade. Quando o furto era farto, iam ao Éden, a sala de cinema mais pomposa de São Luís, e de lá jantar em qualquer birosca da redondeza.
Cama em casa era artigo de luxo destinado apenas aos pais. Os rebentos dormiam em redes. "Dez filhos! Como ia caber tanta cama?" O quintal era cheio de galinhas, plantas e formigas. "Onde há formigueiro, há ouro", diz a lenda popular de sua terra. Um dia Gullar e suas irmãs encasquetaram com o dito. E se for verdade? Cavaram obstinadamente o chão do quintal de onde brotavam saúvas vermelhas em busca do tal tesouro. No meio da empreitada desabou uma tempestade. Resumo da ópera: formigueiro inundado, molecada enlameada e sonho da fortuna enterrado. O episódio, como tantos outros de sua infância, ficou cravado em sua memória e serviu de mote para um de seus primeiros poemas concretos, "O Formigueiro". Nele, as letras dispersas nas páginas lembram formigas e, como no quintal, traçam ali o mapa do ouro.
Mesmo quando você escreve sobre algo doído, você cria uma alegria estética. Você escreve para sublimar, superar, não para maltratar mais ainda
O papo está bom, mas poesia não alimenta. Vamos pedir? Gullar vai de suco de laranja e bife grelhado com legumes. "Ah, sem as batatas!", avisa o homem que, magérrimo, está de dieta para controlar o índice de glicose no sangue. "Prefiro não abusar." O garçom se afasta e o assunto volta.
O pai, Newton, depois de uma carreira como jogador de futebol, passou a tocar uma quitanda. Em suas viagens de trem para comprar mercadoria em outra cidade, às vezes, levava junto o moleque. O trem saía de madrugada e, ao amanhecer, cortava um vasto pantanal. Gullar grudava os olhos na janela, deslumbrado - "e como era grande o mundo/ há horas que o trem corria/ sem nunca chegar ao fim..."
"Poema Sujo" - escrito em Buenos Aires, durante seu exílio, depois do golpe de 64 - resgata essa experiência. "Lá vai o trem com o menino/ Lá vai a vida a rodar/ lá vai ciranda e destino/ cidade e noite a girar..." - trecho que virou letra de "Trenzinho Caipira", de Villa-Lobos. A memória, resgatada em vários de seus poemas, diz, é também inventada. A quitanda de seus versos não é exatamente a quitanda de seu pai. "É uma quitanda transformada, transfigurada. É como eu gostaria que fosse."
Depois de um gole de suco, conta que livro era raridade em sua casa, fora um ou outro de história policial. Gullar descobriu a poesia por acaso. Tinha por volta de 13 anos quando escreveu uma redação na escola sobre o Dia do Trabalho, "justamente o dia em que ninguém trabalhava!" A professora, maravilhada, leu em público, na frente de seus colegas. O menino só não ganhou a nota máxima porque cometeu alguns erros de ortografia. Ah, é? Disse para si: "Se eu quiser ser escritor não posso errar no português".
E assim passou dois anos lendo livros de gramática. Um desses livros continha uma antologia de poetas, o que o despertou para esse tipo de produção literária. "Só estranhava que todos já estivessem mortos. A poesia me parecia uma profissão de defuntos", comenta, rindo. Até que conheceu o pai de uma amiga. Esse senhor, metido em sandálias e camiseta, era membro da Academia Maranhense de Letras. "Ele me apresentou uma quantidade de poetas, todos vivos! Aí entrei na vida literária." Abandonou a escola e nunca foi à faculdade. Buscou, por conta própria, as respostas exigidas por sua curiosidade intelectual. Gullar, que havia se formado lendo poesia parnasiana, descobriu que o material para a arte não precisava vir de um universo idealizado, mas da vida banal, cotidiana.
Depois de ganhar um prêmio de poesia concedido por uma revista literária do Rio, decidiu abandonar o cenário provinciano de sua infância e partir para a capital fluminense. Ele não tinha a menor ideia de como atravessar aquelas avenidas com quantidades enormes de carros circulando. Na certa seria atropelado, pensou. Foi quando uma alma boa apareceu em seu socorro e disse: "Rapaz, para atravessar a avenida você tem que ir até a esquina onde está o sinal luminoso". Perdeu o medo das avenidas, mas ganhou outro, de avião. "Viajei por 50 anos de avião. Acho que já dei chance suficiente para ele cair, agora não dou mais."
Leo Pinheiro/ValorGullar no La Trattoria: “Sempre quis me comunicar, não quero ser um gênio maldito”, diz o poeta, que participa do Flipoços, festival literário que ocorre até o dia 4
O garçom aparece com os pratos. O nosso é farto, já o do Meia Porção... Quando o moço se afasta, Gullar fala sobre seu livro "A Luta Corporal", lançado quando ele tinha 23 anos. "A 'Luta' me levou a desintegrar a linguagem. Mas não fiz de propósito. Pelo contrário. Destruí meu instrumento de trabalho, fiquei sem rumo." O poeta percebeu que seria impossível continuar escrevendo daquela maneira, pois ninguém entenderia. "Sempre quis me comunicar, não quero ser um gênio maldito. Aquilo foi um caminho que eu me meti em função de minhas indagações e foi justamente na época em que a poesia brasileira tinha voltado ao verso rimado e metrificado."
Depois do lançamento de "A Luta Corporal", os irmãos Haroldo e Augusto de Campos e Décio Pignatari procuraram Gullar para falar sobre a destruição da poesia e propuseram o concretismo como um novo caminho poético. O movimento trocou o discurso pela sintaxe visual. "O Formigueiro" é dessa época.
"Mas os irmãos Campos diziam que isso não era poesia concreta!", diz, indignado, mexendo as mãos enormes. "Eles tinham uma concepção que era uma bobagem. Inteligentes, mas muito teóricos, e inventaram que a poesia concreta deveria se feita matematicamente. Coisa de doido, né? Tudo besteira! Matemática é uma linguagem e poesia é outra. Arte não pode ser tão somente uma atividade racional. Aí rompemos." Finda a fala e espeta com gosto um pedaço da carne. "Poesia não é uma coisa que se controle. Ela nasce de algo que se revela inesperadamente."
Como no dia em que, caminhando pela orla da praia, deparou com uma nesga azul no céu. "Linda. Aí falei. Poxa! Meu filho costumava passear por aqui, deve ter visto uma nesga azul como essa. Ele estava dentro de mim vendo o céu. No momento em que pensei isso nasceu o poema. 'Os mortos veem o mundo pelos olhos dos vivos/ eventualmente ouvem com nossos ouvidos'. Mas não é uma coisa deliberada, compreende? Quantas vezes eu andei por aí e nada?" Larga os talheres no prato e diz que a arte é feita para criar alegria, beleza e emoção. "Mesmo quando você escreve sobre algo doído, você cria uma alegria estética. Você escreve para sublimar, superar, não para maltratar mais ainda."
Deixa as palavras ressoando no ar antes de contar como surgiu um outro poema. Estava no centro da cidade, pronto para atravessar uma avenida, quando alguém gritou de longe: "Poeta! Oh, poeta!" Gullar interrompeu os passos e encarou o sujeito que se aproximava. "Cara, te admiro. Adoro sua poesia!" Mas o poeta estava chateado, cheio de problemas de família. "Quando ele foi embora pensei: Pô! Este cara me inveja e mal sabe ele o estado em que eu estou."
Aquilo ficou ruminando em sua cabeça até que surgiu o poema "Traduzir-se", musicado por Fagner e cantado por diferentes intérpretes. "Uma parte de mim é todo mundo/ outra parte é ninguém: fundo sem fundo/ Uma parte de mim é multidão/ outra parte estranheza e solidão." Acaba de recitar e continua olhando para a frente, calado. Abaixa o rosto, ajeita um punhado de legumes no garfo e, antes de levá-lo à boca, diz: "Sabe, uma coisa é o ser público, e outra é você mesmo. A cantora Simone me falou: 'Eu sou isto! Eu canto, centenas de pessoas me ouvindo. E depois? Vou para o quarto sozinha, solitária, angustiada'."
"Com licença" - diz um jovem que se aproxima de nossa mesa. "Vim aqui só para dizer que sigo sendo seu fã." Aperta a mão do poeta, balança umas três vezes e vai embora.
Quando o fã se afasta, o poeta - que neste fim de semana está em Poços de Caldas, como patrono do Flipoços, festival literário que ocorre até o dia 4 - diz que a poesia, ao menos no seu caso, só nasce de algo que o surpreenda. Caso contrário, não escreve. Tanto que seu último livro "Em Alguma Parte Alguma" saiu já faz quatro anos. "Quer dizer que eu decidi não escrever? Simplesmente o espanto não aconteceu, então não escrevo." Já suas colunas semanais no jornal "Folha de S.Paulo" têm de sair de qualquer maneira. Os temas são variados - arte, poesia, política, memórias da infância ou qualquer assunto que esteja na pauta do dia. Um dos temas recorrentes é sobre o tratamento de doentes mentais no Brasil. Gullar teve dois filhos com esquizofrenia. Paulo vive em um sítio em Pernambuco. Marcos, que tinha um quadro mais leve da doença, morreu em 1992, de cirrose hepática. O poeta sempre falou abertamente sobre o assunto.
"O estômago não adoece? O rim não adoece?", pergunta deixando os talheres de lado novamente e liberando as mãos, que acompanham a fala. "Então por que o cérebro não adoece? Ele por um acaso é sublime? A única diferença é que adoecer o cérebro sob alguns aspectos é mais grave. Você pode perder a noção das coisas e fazer até o que o filho do Eduardo Coutinho fez com ele", comenta, referindo-se ao cineasta que foi assassinado pelo filho em fevereiro. "O que digo é que a internação é necessária quando a pessoa entra em surto e se torna um perigo para si e para os outros. Ninguém prega internação para sempre. Mas existe aí um movimento de idiotas antimanicomial", diz aumentando o tom de voz, para concorrer com o "Parabéns" cantado em uma mesa ao fundo e também porque está tomado pelo assunto.
"Ninguém é doente mental 24 horas por dia. No último surto, meu filho ligou para mim e disse: 'Pai, vem me internar porque não estou me sentindo legal'. Eles têm uma consciência. Dói internar um filho, mas às vezes não tem outro jeito." Faz dez anos que Gullar não vê o filho, que vive no sítio de um amigo do poeta em Pernambuco. "Mas a gente se fala todo dia por telefone. Lá não entram drogas, ele toma os remédios. Está feliz, namorando."
Leo Pinheiro/Valor“Sentia-me dentro de um cerco que se fechava. Decidi então escrever um poema que fosse meu testemunho final”, diz sobre “Poema Sujo”, criado no exílio
Gullar pega novamente os talheres e - enquanto faz pequenas pausas para pegar pequenas porções da comida - conta que a doença surge geralmente na adolescência. No caso de Paulo, o poeta tinha acabado de chegar a Buenos Aires, uma das cidades onde ficou durante os quase sete anos de exílio. "Era um horror. Eu não queria morar fora, aquilo era um castigo para mim." Para evitar que a família toda "pagasse o preço de seu exílio, o que não era justo", a mulher, o caçula e a filha - Luciana - hoje mãe dos seis netos do poeta - retornaram para o Rio. Apenas Paulo ficou com ele. Gullar percebia algo estranho no filho, mas não imaginava o que poderia ser.
"Eu não conhecia a loucura, não conhecia esse troço." Os dois jogavam futebol na sala, de porta aberta, quando a bola caiu pela escada. O rapaz, com 18 anos, foi atrás da bola e não voltou mais. Desapareceu. Gullar saiu feito doido pelas ruas, mas não o encontrou em parte alguma. Desistiu e voltou para casa na esperança de que Paulo voltasse. Nada. Foram duas semanas de desespero até descobrir que o filho estava em uma delegacia. Tinha sido pego tentando roubar um carro. O detalhe é que ele não sabia dirigir. Gullar levou Paulo, que estava magérrimo, para um hospital psiquiátrico, onde ficou internado até que saísse do surto. Em poucos dias Paulo fugiu de lá também. Seu paradeiro só foi descoberto dois meses depois. Conseguiu viajar, sozinho, de Buenos Aires ao Brasil: "Veio de carona, a pé, fez o diabo!"
Foi no meio de tudo isso que Gullar escreveu "O Poema Sujo", considerado sua obra-prima. Além das preocupações familiares, o poeta estava exilado, com passaporte vencido e pavor de morrer. "A cada manhã novos cadáveres eram encontrados" - diz no prefácio do livro. "Sentia-me dentro de um cerco que se fechava. Decidi então escrever um poema que fosse meu testemunho final, antes que me calassem para sempre... Queria resgatar a vida vivida... talvez quem sabe para encontrar amparo no solo afetivo da terra natal."
Quando o garçom leva os pratos, não há mais quase ninguém no restaurante. A não ser uma cliente que almoça sozinha e, antes de ir embora, passa para dizer que admira o poeta. O Meia Porção dispensa sobremesa. E, já mexendo o café, fala sobre sua atuação política na época da ditadura. Gullar se filiou ao Partido Comunista no dia seguinte ao golpe. "Nós estávamos iludidos, como se fosse de fato possível manter Jango no poder, criar o início do socialismo. Era uma ingenuidade." Chegou a ser convidado por Mário Alves - dirigente comunista morto durante a ditadura - a participar da luta armada, mas achou a ideia descabida. Argumentou que aquilo era uma bobagem, um suicídio. Para as próximas eleições, diz sorvendo o café, ainda não definiu o voto. Está entre Aécio e Eduardo Campos. "Só sei que não vou votar na 'presidenta' Lula."
O garçom aparece com a conta e a "quentinha" do poeta. Vamos, fotógrafo e repórter, caminhando juntos até a casa de Gullar, com uma pausa na praia para mais algumas fotos. Passamos por algumas esculturas de areia com formas de mulheres de biquínis cavados deitadas de bruços. "E isto, é arte? Pode ir para um museu?", provoca a repórter de brincadeira. É que o poeta - que há oito anos parou de frequentar as bienais - havia dito no almoço que hoje em dia qualquer bobagem que entra em um museu é chamada de arte. "É uma boa ideia mandar urubu para museu? Outra coisa: por que casal nu no MoMA é obra de arte e na casa da mulher não? Quer dizer que é o museu que faz a besteira virar obra de arte? Um casal nu na rua não é arte, mas no museu é? Hoje tudo é chamado de arte contemporânea, mas a maioria não é arte coisa nenhuma. A 'Monalisa' não precisa de museu para ser arte, mas o casal nu só é arte no museu. Vem cá, não dá!" O artesão da obra de areia se aproxima. Não está interessado na discussão filosófica, mas na "quentinha" que o poeta traz na mão. "Cara, eu não tenho cozinheira, quem vai fazer a comida pra mim?", Gullar diz, sem desgrudar de sua marmita.
No Rio, o poeta não vive desamparado. Conta com Maria, que há 20 anos trabalha para a família. Duas vezes por semana ela - "minha amiga e companheira" - limpa a casa e faz uma comida fresca. Foi Maria quem encontrou Thereza Aragão - mulher de Gullar e mãe de seus filhos - morta na cama em 1994. "Thereza tomou banho, vestiu um roupão branco e se deitou. Não levantou mais." Fumante inveterada que era, teve um enfarte fulminante. O poeta deixou o cigarro há 20 anos, quando descobriu um enfisema.
O fotógrafo pede que Gullar se sente em um banco para as fotos. Ele deixa que eu cuide se sua "quentinha", cruza as pernas e olha para a frente, contemplativo. Uma pomba entra no quadro, rodeia o poeta e arranca-lhe um sorriso.

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A difícil missão de conciliar o estudo as demandas do trabalho.

Vitor Salgado/Valor / Vitor Salgado/ValorJoão Arnaud, consultor da PwC, achou melhor trancar o curso depois que o filho nasceu na semana de provas
Entre reuniões e as metas estabelecidas nas empresas, não é raro que a carga de trabalho dos executivos vá muito além das tradicionais oito horas diárias, invadindo, inclusive, fins de semana e feriados. Paralelamente, o mercado exige que esses profissionais continuem estudando e se atualizando. Tanto que o MBA é visto, hoje, como um passo natural em suas carreiras.
Muitas vezes, essas duas demandas acabam sendo incompatíveis. Mesmo quando o executivo consegue acompanhar as aulas - indo durante a noite e aos sábados, ou fazendo semanas de imersão - acaba não dando conta de ler os livros, realizar tarefas e se reunir para trabalhos em grupo. Não é apenas uma questão de gestão do tempo. Existem momentos em que não é possível encaixar todos os compromissos na agenda, e um replanejamento se faz necessário.
É o caso de Yassue Inoki, de 40 anos. A executiva que fez carreira na área de tecnologia em empresas como Citibank e Intelig, entrou na Globo em 2004 para coordenar a área de operações comerciais internacionais da rede. Era responsável por, entre outras tarefas, cuidar da venda de conteúdo produzido pela empresa. A mudança aconteceu no mesmo período em que Yassue voltou a estudar - estava fazendo uma pós-graduação em gerenciamento de projetos pela UFRJ.
Mesmo quando o executivo consegue acompanhar as aulas, acaba não dando conta de ler os livros e se reunir para tarefas em grupo
Mas a dinâmica do mercado acabou com os seus planos iniciais. A Globo decidiu criar uma operadora própria para distribuir o seu conteúdo na Europa, no modelo "direct to home" via satélite, e Yassue era a responsável pelo projeto. "O prazo para montar a operação era de sete meses e tínhamos que fechar contratos com bancos internacionais. Isso sem contar todo o desafio de engenharia e a parte jurídica. Era um projeto pioneiro", lembra. Ela decidiu, então, pisar no freio da parte acadêmica. "Faltavam seis meses para concluir o curso. Conversei com os professores e eles até tentaram flexibilizar horários, mas não teve jeito. O caminho foi trancar."
Yassue ressalta que pesou na decisão de parar o curso o fato de estar vivendo entre São Paulo e Rio de Janeiro para cuidar do projeto. Não havia tempo hábil, nem energia, para estudar e fazer as tarefas. "A operadora era a prioridade. Estava tão empenhada em fazer tudo funcionar que não questionei minha decisão, nem pensei no investimento financeiro que tinha feito na pós."
Depois de sete meses em ritmo acelerado para dar conta do desafio, o projeto foi concluído, mas ela só conseguiu retomar o programa dois anos depois. "Levei mais um ano para completar o que faltava, mas foi interessante porque consegui levar minhas novas experiências para dentro do curso", conta. Yassue, que ficou na Globo até 2013, está trabalhando como consultora e estuda propostas para voltar ao setor de mídia ou telecomunicações. Enquanto não decide qual será o próximo passo profissional, ela já sabe que vai voltar a estudar. "Estou pensando em fazer um MBA executivo. Não vai ser fácil conciliar, mas vou dar um jeito."
A dificuldade de equilibrar as exigências profissionais com a demanda acadêmica também foi um problema para João Arnaud. O consultor, de 39 anos, já tinha uma experiência bem-sucedida de combinar os estudos com a carreira ao concluir uma pós em administração, em 2001. Nove anos depois, decidiu começar um MBA em finanças. Arnaud, que trabalha na PwC desde 2006, escolheu o Insper e recebeu uma bolsa de 80% da empresa. "Como já tinha passado por isso antes, achei que iria conseguir novamente", afirma.
Aulas presenciais duas vezes por semana à noite e a monitoria aos sábados faziam parte da grade curricular. No início, Arnaud manteve o ritmo, mas seu primeiro filho nasceu na semana de provas. A rotina de pai recente passou, então, a consumir boa parte da sua energia. "Somando as responsabilidades da empresa com as familiares, não era possível continuar estudando", conta.
Na ocasião, Arnaud optou por trancar o curso e voltou depois de um ano - não sem antes fazer algumas mudanças. "O normal é fazer duas matérias por semana. Optei por fazer uma só e, mesmo demorando o dobro do tempo para terminar, valeu a pena. O meu aproveitamento foi melhor."
Com o término do programa, falta apenas entregar o Trabalho de Conclusão de Curso, o que não seria um problema. Ele, no entanto, foi convidado para fazer uma imersão profissional de três meses na PwC de Nova York no fim do ano passado. "Era uma experiência única e tive que aproveitar. Nem cogitei fazer a monografia durante esse período", afirma. De volta ao Brasil, Arnaud tem até o fim deste mês para resolver a pendência, o que vai fazer nos próximos fins de semana. "Só não vou poder ficar em casa, porque meu filho me chama para brincar. Acho que vou ter que escrever do escritório."
Mas nem sempre parar tudo é a melhor resposta. Cristiano Carvalho, de 38 anos, optou por tentar equilibrar as demandas profissionais com as exigências acadêmicas. O executivo atua no setor de aviação e passou vários anos morando em países como Cingapura e Estados Unidos. Quando retornou ao Brasil, em 2011, para atuar na United Technologies, achou que era o momento perfeito de voltar a estudar. "No exterior, minha vida era muito corrida. Tinha que visitar clientes na Austrália, no Japão e ficava 80% do tempo viajando. Isso sem contar que a minha filha nasceu nesse período. Com a volta, imaginei que, finalmente, conseguiria tempo para fazer um MBA."
Carvalho escolheu um programa do Iese, mas uma proposta inesperada acabou com a tranquilidade prevista. "Entre marcar e começar o curso, recebi uma proposta da Rockwell Collins. O desafio era muito interessante e resolvi aceitar", conta. Para atuar como gerente geral de serviços da gigante americana de aviação, o executivo precisou mudar com a família para São José dos Campos, no interior de São Paulo. "A mudança, mais os desafios de um novo emprego e um curso muito puxado, cobraram o preço. Tive um desempenho fraco no primeiro quadrimestre, bem abaixo do que eu esperava", conta.
O momento era crítico. "Conversei com os professores e com a minha empresa. Fizemos mudanças e resolvi continuar". A empresa passou a proteger o dia das aulas, evitando marcar reuniões, além de liberar o profissional para fazer a semana intensiva de treinamento - cinco vezes em 18 meses de curso - sem exigir que ele usasse as suas férias. "Tive muito apoio. Se a empresa não entende a importância da educação executiva, nem adianta o profissional tentar", afirma.
As suas notas comprovaram a diferença. As notas C do início do curso transformaram-se em A e B. "Existem empresas que acreditam que vão perder o funcionário após o MBA, pois ele abre muitas portas. No meu caso, especialmente pela postura adotada, tive uma identificação muito grande com a empresa", diz Carvalho, que deve concluir o curso no mês que vem.
Um dos principais problemas para gerenciar formação e carreira está nas infinitas reuniões com diversos funcionários em vários lugares do mundo. Neste cenário, o executivo precisa estar disponível, praticamente, 24 horas por dia e 7 dias por semana. É o caso de Brigitte Ann Nielsen, 39 anos. Formada em direito, a gerente de relações sindicais para América Latina da IBM está há nove anos na empresa e já desistiu de uma pós-graduação em direito previdenciário por não ter condições de conciliar a agenda.
Em sua opinião, a expectativa de que o profissional vá estar presente dois dias por semana, ainda que durante a noite, além dos sábados, é exagerada. "Se o cargo demanda interação com diferentes países e horários, essa demanda se torna irreal. Nesse caso, o ensino acabou defasado ante a realidade do mercado", diz.
Brigitte tinha desistido temporariamente da formação executiva até encontrar um modelo diferente de curso. Quando descobriu o MBA da Fundação Dom Cabral (FDC), que combina ensino a distância com uma semana de imersão a cada três meses nos 18 meses de curso, ela viu um caminho para continuar. "Dessa forma, fica muito mais fácil me programar. Eu sentia falta de estudar, mas não tinha como conciliar o trabalho com o modelo tradicional dos cursos", afirma.
Na vida dos executivos, a incompatibilidade entre estudo e carreira pode ser algo temporário. Isso pode acontecer por conta de um novo projeto que demande atenção exclusiva e, nesse caso, o melhor caminho pode ser esperar passar o furacão. Em muitos casos, a situação pode exigir uma conversa com a empresa pode resolver. Como o mercado valoriza a formação executiva, os profissionais precisam continuar atentos para voltar às carteiras, seja no modelo mais tradicional ou em formatos alternativos combinando ensino a distância com reuniões de imersão.

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Habilidades socioemicionais são chave para empregos do futuro.

Atualizado em  2 de maio, 2014 - 05:53 (Brasília) 08:53 GMT
Crianças estudando (BBC)
Desenvolvimento de habilidades socioemocionais pode ajudar no aprendizado
Que competências os jovens precisam aprender hoje para se prepararem para as profissões do futuro?
Muitas dessas profissões ainda nem existem, mas a pergunta tem mobilizado especialistas em educação e mercado de trabalho – em busca de aperfeiçoamentos nos sistemas de ensino atuais.
E cresce entre analistas a percepção de que muitas habilidades cruciais não serão técnicas, mas, sim, sociais e emocionais: resiliência, curiosidade, colaboração, pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas, por exemplo.
"Com o acesso abundante ao conteúdo, o que a pessoa precisa é saber escolher, separar fatos de opiniões, saber navegar em meio a muitas informações não filtradas", explica Denis Mizne, diretor-executivo da fundação educacional Lemann.
"Daí a importância do pensamento crítico. E a resiliência tem a ver com um mundo menos previsível. Se não sei que profissões existirão, preciso me adaptar."
Mas como ensinar habilidades desse tipo, sem descuidar do conteúdo escolar? E será que muitas delas têm sido pouco exercitadas pelas últimas gerações?
Para a professora Carmen Migueles, especialista em educação e desenvolvimento organizacional da EBAPE-FGV, parte das novas gerações – crescidas na internet – "perdeu o contato com o sacrifício e a capacidade de vencer obstáculos".
"Eles entram no mercado de trabalho achando que serão recebidos em um palco iluminado pronto para eles", opina a professora à BBC Brasil. "Mas o sucesso é algo que se consegue em meio às dificuldades."
Segundo ela, essas habilidades socioemocionais – chamadas também de "soft skills" ou habilidades não cognitivas – foram citadas por todas as empresas quando questionadas sobre o que queriam em seus funcionários, em pesquisas feitas pelo MBA da FGV no Rio.
"É um cultivo de virtudes, como paciência, solidariedade e entendimento de diferenças em uma sociedade multicultural", diz ela. "Isso ajuda, por exemplo, a lidar com o choque de culturas quando uma empresa é comprada por uma estrangeira."

Debate

Habilidades socioemocionais consideradas importantes para profissionais do futuro

Criatividade
Espírito colaborativo
Pensamento crítico
Resiliência
Habilidades de comunicação
As habilidades das gerações futuras foram debatidas recentemente em eventos nacionais e internacionais: no seminário Educar Para as Competências do Século 21, em março, no Brasil, e na Conferência de Educação Privada, realizada em abril em San Francisco (EUA) pela International Finance Corporation, ligada ao Banco Mundial.
Um dos participantes da conferência internacional foi o especialista americano Brian Waniewski.

Experiências para estimulá-las

Com jogos que envolvam superação de desafios, pensamento crítico e colaboração; há experiências educacionais envolvendo desde jogos de tabuleiro até videogames
Levando aos alunos debates sobre estudos de casos reais e práticos e estimulando o questionamento da utilidade do conteúdo aprendido
Estimulando atividades que envolvam criação e criatividade; na infância, blocos de montar, programas de design e programação e lápis de cor ajudam nessa tarefa
"Um dos fatores mais importantes é aprender a aprender – e a curiosidade não é algo que seja muito estimulado pelos sistemas educacionais atuais", diz ele à BBC Brasil. "O mercado de trabalho se move mais rápido do que o educacional."
Mas já existem diversos experimentos em curso para ensinar e mensurar essas habilidades. Um deles é do próprio Waniewski, ex-diretor do Institute of Play, empresa que desenvolve métodos de ensino baseados em jogos.

Na prática

Waniewski argumenta que o uso de jogos na sala de aula ajuda a simular a resolução de problemas na vida real. "Você progride de um nível para outro, supera desafios e é um agente proativo", diz.
A mesma lógica vale para levar casos concretos e questões da vida real – por exemplo, problemas da comunidade - para o debate entre alunos, em vez de focar apenas o conteúdo teórico.
"Isso passa por tirar o aluno de seu papel e colocá-lo para desenvolver problemas complexos e em equipe", diz Migueles.
Ainda que isso já seja estimulado em alguns cursos superiores ou pós-graduações, ainda é algo incipiente nas escolas, diz sua colega na FGV-SP, a professora de economia Priscilla Tavares.
"Hoje aprende-se muito mais o conteúdo do que o que fazer com ele", opina, citando o exemplo do logaritmo, elemento matemático comumente usado por profissionais de finanças. "Mas, quando aprendemos logaritmo, não aprendemos para que ele pode ser aplicado."
A dica, aí, é que os alunos tentem estudar não apenas para passar na prova, mas buscar entender a aplicação prática do conteúdo e como relacioná-los a outras disciplinas aprendidas.
"Muita gente trata o debate como se fosse preciso escolher entre ensinar essas habilidades e o conteúdo tradicional, como matemática e português", afirma Mizne, da Fundação Lemann. "Mas os alunos precisam das duas coisas – e essas habilidades ajudam no aprendizado do conteúdo."
A tecnologia também colabora. Um grupo do Laboratório de Media do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) dedica-se a desenvolver métodos de aprendizado criativo.
Uma de suas maiores apostas é uma linguagem de programação chamada Scratch (disponível no site http://scratch.mit.edu/), que estimula o aprendizado de programação mas também "estratégias para resolução de problemas, design de projetos e ideias de comunicação".
E pais podem estimular os filhos a desenvolver essas habilidades desde cedo, diz Resnick, com brincadeiras que envolvam design e criação, como blocos de montar, desenhos e jogos.

Experimentos

Aqui no Brasil, o Instituto Ayrton Senna e a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) fizeram um estudo, recém-divulgado, com 24,6 mil alunos da rede estadual do Rio de Janeiro, com uma ferramenta desenvolvida para a medição de competências socioemocionais.
Algumas das conclusões são de que ter em casa mais de uma estante de livros aumenta em 40% a chance de uma criança ser mais aberta a novas experiências; e que estimular habilidades como planejamento e o protagonismo entre os alunos melhora seu desempenho em matemática e português, respectivamente.
"Notamos que as escolas em geral já praticam essas habilidades em seu cotidiano, mas de maneira não intencional", explica à BBC Brasil Mozart Neves Ramos, diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna. "Se as escolas conseguirem trabalhar esses valores, eles serão potencializados."
E eles podem ser potencializados por atividades esportivas e culturais, pela incorporação de jogos que colaborem no aprendizado das diferentes disciplinas e pelo estímulo à pesquisa entre os alunos, agrega Ramos.
O Instituto agora testa a incorporação dessas habilidades no currículo escolar do Colégio Estadual Chico Anysio, no Rio – incluindo treinamento de professores, projetos interdisciplinares envolvendo capacidades socioemocionais e estímulo a que os alunos elaborem "projetos de vida", com planos para o futuro.
"A vantagem é que essas habilidades não cognitivas se desenvolvem ao longo da vida, basta criar um ambiente adequado para isso", diz Ramos.
Para Resnick, do MIT, mais do que ajudar na busca de empregos, o estímulo dessas habilidades ajudará os jovens do futuro a serem "uma parte mais ativa da sociedade, pessoas que pensam melhor, inovam e são e capazes de articular suas ideias. E todo o mundo precisa disso".

O escritor brasileiro que virou o "Pele dos números".


Malba Tahan (Foto: Acervo familiar/Malbatahan.com.br)
Autor de O Homem que Calculava usava pseudônimo de Malba Tahan, mas na verdade era Julio César de Mello e Souza
No início do século 20, o público brasileiro foi conquistado por um escritor de origem árabe em cuja homenagem se comemora, nesta terça-feira, no país, o Dia da Matemática. A história chamou a atenção do autor britânico Alex Bellos que, no artigo a seguir, relembra esse "Pelé dos números".
"Em 1925, o Rio de Janeiro vivia um clima de otimismo. A obra para a instalação da estátua do Cristo Redentor no Corcovado seguia a todo vapor. O samba, recém-nascido, era a nova bossa, verdadeira mania nacional.
Em artigo de primeira página, o principal jornal do país, A Noite, apresenta ao público um novo astro da literatura: Malba Tahan - ou, citando seu nome completo, Ali Iezid Izz-Edim Ibn Salim Hank Malba Tahan - escrevia em árabe e sua obra estava sendo traduzida especialmente para o público brasileiro, dizia o jornal.
Os contos do autor, no estilo das Mil e Uma Noites, traziam histórias com conteúdo moral e tocavam de leve em temas ligados à matemática.
Fizeram um imenso sucesso. Em 1932, Malba Tahan publicou o que se tornaria um dos mais bem-sucedidos livros já escritos no Brasil: O Homem que Calculava.
A história se situa no século 13 e começa assim:
'Voltava eu, certa vez, ao passo lento do meu camelo, pela estrada de Bagdá, de uma excursão à famosa cidade de Samarra, nas margens do Tigre, quando avistei, sentado numa pedra, um viajante, modestamente vestido, que parecia repousar das fadigas de alguma viagem.'
O viajante é Beremiz Samir - um matemático persa que segue acompanhando o narrador em uma jornada de 12 episódios nos quais Samir resolve problemas usando suas habilidades matemáticas.
Em um dos capítulos, eles visitam a casa do ministro do rei, o vizir Ibrahim Maluf.
'Atravessamos o pátio e (...) fomos levados para o interior do palácio. Cruzamos várias salas ricamente enfeitadas com tapeçarias bordadas com fios de prata e chegamos finalmente ao aposento em que se achava o prestigioso ministro do rei. Fomos encontrá-lo recostado em grandes almofadas a palestrar com dois de seus amigos.'
Beremiz impressiona o vizir pela maneira incomum como contou uma cáfila de camelos - ele conta o número de patas e orelhas, e depois os divide por seis. Os camelos são um presente para o pai da futura noiva do vizir, a jovem Astir, de 16 anos.
Beremiz nota, no entanto, que um dos camelos não tem uma das orelhas.
Malba Tahan
Ele escreveu mais de cem livros com seu pseudônimo
'Eu queria fazer uma pequena sugestão', ele diz. 'Se retirardes da cáfila o tal camelo sem orelha, o total passará a ser de 256. Ora, 256 é o quadrado de 16, isto é, 16 vezes 16.
O presente oferecido ao pai da encantadora Astir tomará, desse modo, feição altamente matemática: O número de camelos que formam o lote é igual ao quadrado da idade da noiva!
Além do mais, o número 256 é potência exata do número 2 (que para os antigos é número simbólico), ao passo que 257 é primo. Essas relações entre os números quadrados são de bom augúrio para os apaixonados.'
Eu adoro O Homem que Calculava. O livro nos transporta a um mundo mágico de beduínos, vizirs, xeiques, príncipes e reis, rico em referências a tradições e islâmicas e lugares no Oriente Médio. As referências matemáticas, simples e acessíveis, são o fio condutor da história.
Ele escreve principalmente sobre aritmética, mas também sobre geometria. E sobre curiosidades como o quadrado mágico - 'um quadrado cheio de números' - que o sultão dá de presente a Beremiz após o objeto ter sido salvo da casa de um calígrafo.
'Depois de ter observado com meticuloso cuidado o tabuleiro e o quadro, disse o Homem que Calculava:
- Esta interessante figura numérica, encontrada no quarto abandonado pelo calígrafo, constitui o que chamamos um quadrado mágico.
- Tomemos um quadrado e dividamo-lo em 4, 9 ou 16 quadrados iguais, a que chamaremos casas. Em cada uma dessas casas coloquemos um número inteiro. A figura
obtida será um quadrado mágico quando a soma dos números que figuram numa coluna, numa linha ou em qualquer das diagonais, for sempre a mesma. (...)
Os números que ocupam as diferentes casas do quadrado mágico devem ser todos diferentes e tomados na ordem natural. (...) O quadrado mágico com 4 casas não pode ser construído.'
Beremiz diz ainda que quando um quadrado mágico pode ser rearranjado para formar outros quadrados mágicos, por exemplo, movendo-se a última fileira para cima, ou a coluna à esquerda para a direita, ele é chamado hipermágico. 'Certos quadrados hipermágicos são conhecidos como diabólicos', ele acrescenta.

Mágico e diabólico

O Homem que Calculava tornou-se, merecidamente, um bestseller. E Malba Tahan ficou famoso, tão famoso como os astros do futebol.
Agora, há um detalhe: o livro foi uma fraude literária. Malba Tahan nunca existiu. Esse era, na verdade, o pseudônimo de Júlio César de Mello e Souza, um professor de matemática do Rio de Janeiro que nunca pôs os pés no Oriente Médio.

Ambos os quadrados são mágicos, mas o quadrado à direita é diabólico. A constante, 34, é obtida não apenas adicionando-se os números de qualquer coluna, linha ou diagonal, mas pela adição de quatro números do quadrado de outras maneiras. Os números nos cantos somam 34. Cada 2X2 quadrado soma 34. Na verdade, existem 86 maneiras diferentes de se obter o mesmo total.
Mello e Souza nasceu em 1895. Depois de estudar engenharia na faculdade, passou a ensinar matemática e escrever contos nas horas livres. Quando ofereceu suas primeiras histórias ao jornal local, foram recusadas.
Mas quando mudou os nomes das personagens e dos lugares e ofereceu os contos novamente, dizendo que eram traduções de histórias do fabuloso escritor americano RS Slade, os jornais as publicaram.
Mello e Souza percebeu que só teria chance de fazer sucesso como escritor no Brasil se usasse um pseudônimo estrangeiro. Seu amor pela matemática tinha despertado nele o fascínio pelas ciências islâmicas, então, decidiu escrever sobre a Arábia Antiga usando o nome fictício de Malba Tahan.
Mello e Souza criou uma história elaborada para Malba Tahan. Segundo a invenção do brasileiro, Malba Tahan havia nascido em 1885, perto de Meca. Tinha viajado pelo mundo inteiro, incluindo uma temporada de 12 anos em Manchester (Inglaterra), onde seu pai era um bem-sucedido mercador de vinhos.
E muito apropriadamente, o árabe teria perdido sua vida lutando pela liberdade de um grupo de beduínos no deserto.
Quando Mello e Souza começou a escrever como Malba Tahan, somente o dono do jornal que publicava as histórias sabia da verdade.
Em sete anos, ninguém percebeu que o famoso escritor árabe era na verdade um professor de matemática carioca cuja outra paixão era colecionar sapos de porcelana.
Quando, finalmente, foi revelado que Malba Tahan era, na verdade, o humilde Júlio César de Mello e Souza, o escritor estava tão famoso que já não importava mais.
Entre os fãs do autor estavam de crianças ao presidente do Brasil. Hoje, o mais famoso escritor brasileiro no exterior, Paulo Coelho, também se diz fã de Malba Tahan.
'Ele foi um grande contador de histórias', diz Coelho. 'Eu pedi à minha família que comprasse todos os livros dele. Um dia, eu disse: 'Meu Deus, esse cara é tão incrível, um dia eu gostaria de conhecê-lo!''
O jovem Paulo Coelho ficou chocado quando seus pais revelaram que o misterioso árabe Malba Tahan era, na verdade, um amigo deles, e que morava a poucos quarteirões de distância.
'Fui à casa dele', relembra Coelho, 'e olhei para ele, apertei a mão dele e acho que ele ficou lisonjeado ao saber que uma criança de dez anos estava lendo todos os seus livros. Não tive coragem de pedir que ele assinasse meus livros porque fiquei completamente tímido. Malba Tahan nos falou da sua linda cultura árabe e ele é tão importante hoje porque a tolerância está sempre presente em suas histórias.'
Mello e Souza escreveu mais de cem livros. Cerca de a metade deles é sobre matemática recreacional e a maioria é situada no Oriente Médio islâmico, embora ele também tenha escrito histórias sobre rabinos, gregos, chineses e babilônicos.
Mas apesar de sua paixão por culturas estrangeiras, ele só saiu do Brasil duas vezes, para ir a Portugal e à Argentina.
Ele morreu em 1974, tendo vendido mais de 1 milhão de livros no Brasil. O Homem que Calculava continua sendo o mais famoso e ainda está em catálogo.
Minha cópia já surrada é a 74ª edição. O livro foi traduzido para o espanhol, inglês e alemão.
E ele vai continuar a ser parte da cultura brasileira desde que o governo brasileiro decretou, no ano passado, que o aniversário de Mello e Souza, no dia 6 de maio, é o Dia Nacional da Matemática.
Malba Tahan foi chamado de 'brasileiro da Arábia' e 'Pelé dos números'. Mas será que esse herói brasileiro gostava de futebol?
Não. O matemático achava futebol 'um pouco chato'.
Matemática, islã e colecionar sapos de porcelana eram muito mais divertidos."

"Quero mostrar outro Brasil", diz cientista que prepara chute de paraplégico na Copa


Atualizado em  9 de maio, 2014 - 07:36 (Brasília) 10:36 GMT

Exoesqueleto. Foto: divulgação
Ilustração mostra como seria a inauguração da tecnologia na abertura da Copa
No dia 12 de junho, o Itaquerão será palco de dois eventos históricos – e não apenas um.
O primeiro deles será a abertura da Copa do Mundo, um evento que volta a ser sediado no Brasil depois de 64 anos.
O outro é a estreia de uma tecnologia de ponta que, segundo cientistas, pode ajudar a mudar a vida de milhões de pessoas pelo mundo.
Na abertura da Copa do Mundo com o jogo Brasil x Croácia, será feita a primeira demonstração pública de um exoesqueleto controlado pela mente, que permite que pessoas paraplégicas caminhem.
Se tudo der certo, a roupa robótica será vista por 70 mil pessoas no estádio e por bilhões em todo o mundo, na televisão.
O exoesqueleto foi desenvolvido por um grupo de cientistas que fazem parte do projeto Walk Again ("Caminhar de Novo"), e é o resultado de anos de pesquisa de Miguel Nicolelis, um neurocientista brasileiro que trabalha na universidade de Duke, nos Estados Unidos.
Nicolelis acredita que a demonstração na Copa é uma forma de promover também a imagem dos cientistas brasileiros.
"Também é a nossa intenção mostrar para o mundo um outro Brasil. Mostrar que aqui no Brasil também se pode fazer grandes projetos científicos com impacto humanitário e mostrar que existe um outro país, um país que cresceu muito nos últimos anos, melhorou a vida de muita gente, mas que ainda pode fazer coisas muito impressionantes não só para os brasileiros, mas para todo o mundo."

Exoesqueleto

Em 2003, Nicolelis mostrou que macacos conseguiam controlar os movimentos de braços virtuais em um avatar através da atividade de seus cérebros.
Desde novembro, Nicolelis vem fazendo testes e treinamentos com oito pacientes em um laboratório em São Paulo. A imprensa especula que talvez um deles possa levantar de sua cadeira de rodas e dar o pontapé inicial no jogo entre Brasil e Croácia, na estreia da Copa.
"Esse era o plano original", revelou Nicolelis à BBC. "Mas nem eu posso falar sobre detalhes específicos de como será esta demonstração. Tudo está sendo discutido neste momento."
Exoesqueleto. Foto: divulgação
A bateria da tecnologia permite que ele seja usada por duas horas
Nicolelis explica que todos os pacientes têm mais de 20 anos de idade. O mais velho tem cerca de 35.
"Começamos treinando em um ambiente virtual com simulador. Nos primeiros dias, quatro pacientes usaram o exoesqueleto para dar seus primeiros passos e um deles usou o controle mental para chutar uma bola."
"Agora aumentamos nossas metas. O exoesqueleto está sendo controlado por atividade cerebral e está enviando sinais de retorno para o paciente."
Um capacete vestido pelo paciente capta os sinais do cérebro e os repassa para um computador na mochila do exoesqueleto que decodifica os sinais e os envia para as pernas. O terno robótico usa pistões hidráulicos e uma bateria, que dura duas horas.
"A ideia básica é que estamos gravando os sinais do cérebro e que depois estes sinais estão sendo traduzidos em comandos para que o robô comece a se mexer", explica Gordon Cheng, da Universidade Técnica de Munique, que trabalhou com Nicolelis e pesquisadores na França para construir o exoesqueleto.
"Estou mais na parte de engenharia e técnica, e uma das tecnologias fundamentais com a qual estamos contribuindo é o sensor que é de ponta", disse Cheng à BBC.
O sensor na pele artificial do robô consegue captar o ambiente de forma semelhante aos humanos.
"Quando o pé do exoesqueleto toca o chão, existe pressão e o sensor capta essa pressão. Antes que o pé toque o chão também existe um sensor pré-contato", explica ele.
Exoesqueleto. Foto: divulgação
Sensores no pé do exoesqueleto captam informações do chão antes do contato
"O sensor também registra a temperatura e informações sobre vibrações."
Nicolelis explicou que quando o exoesqueleto começa a se mexer e toca o chão, o sinal é transmitido para um vibrador eletrônico no braço do paciente.
"Quando você pratica por bastante tempo, o cérebro começa a associar esse movimento das pernas à vibração no braço. O paciente começa então a desenvolver uma sensação de que possui pernas e é assim que ele começa a caminhar."
Os componentes são construídos em diversos países.
"Estamos usando material feito com impressoras 3-D, a partir de plástico resistente, alguns deles mais fortes que metal e muito leves. E, é claro, estamos usando alumínio."
Alguns críticos disseram que a apresentação pública na Copa poderá passar a impressão falsa de que esta tecnologia estará disponível a todos em breve.
Nicolelis faz questão de deixar claro que isso é "só o começo". Cheng acredita que a tecnologia estará disponível pelo menos dentro dos próximos 20 anos.
Exoesqueleto. Foto: divulgação
Sinais do cérebro controlam os movimentos do exoesqueleto
"É assim que a ciência avança. Você precisa demonstrar e testar os conceitos. É uma forma de dizer à sociedade civil, que paga pela ciência no mundo, de que temos a possibilidade de sonhar com esta realidade, porque ká estamos trabalhando de forma experimental."
O ideal da ciência como forma de transformação social é um dos princípios do centro de pesquisas montado por Nicolelis em 2005 em Natal – o Instituto Internacional de Neurociência de Natal Edmond e Lily Safra (ELS-IINN), com contribuição da milionária família de banqueiros.
O centro conta não só com laboratórios, mas também com uma escola de ciências que atende 1,5 mil crianças e uma clínica que faz atendimento pré-natal gratuito para 12 mil mulheres por ano.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Os melhores salários para recém-formados.

Pesquisa realizada pelo site de empregos Adzuna revela que, em  média, um diploma universitário aumenta o salário inicial de profissional em 50% na comparação com que tem apenas o ensino médio completo.
A empresa analisou mais de 320 mil anúncios de emprego publicados no site entre dezembro de 2013 e março de 2014, E comparou os salários oferecidos em oportunidades que exigiam nível superior com o pago naqueles em que bastava a conclusão do ensino médio.
O levantamento mostra quais são os diplomas universitários que atraem os melhores salários para recém-formados e quais têm as menores médias salariais para quem está começando a carreira.

I - MELHORES SALÁRIOS:

1 - Engenharias - R$ 3690,00
2 - Tecnologia da Informação - R$ 2850,00
3 - Economia e Finanças - R$ 2843,00
4 - Medicina - R$ 2791,00.

II - PIORES SALÁRIOS:

1 - Artes - R$ 800,00.
2 - Letras - R$ 870,00.
3 - Pedagogia - R$ 900,00.
4 - Serviço Social - R$ 1000,00.

Consulta: Revista Exame.

Subir escadas fortalece músculos, coração e pulmões.

Cogite usar escadas do prédio onde mora ou trabalha caso não tenha como sair para o treino do dia

Matthew Solan, da
Getty Images
Mulher subindo escada
Mulher subindo escada: subir escadas “obriga a utilizar estabilizadores musculares, como o [músculo] glúteo médio, que normalmente são ignorados nas corridas regulares”, diz especialista
São Paulo - O dia amanheceu frio e chuvoso? Você tem apenas alguns minutos para treinar? Então pense em usar as escadas do prédio onde mora ou trabalha.
Subir escadas fortalece os mesmos músculos usados em agachamentos e afundos, além de exigir esforço dos pulmões e do coração para você ir ao topo. “As escadas forçam-no a trabalhar contra a gravidade, o que ajuda a aprimorar força e propulsão, características fundamentais, esteja você na arrancada final de uma prova de 5 km ou tentando manter o ritmo na última etapa de uma maratona”, diz a médica do esporte Anne Moore, treinadora de corrida na Carolina do Sul (EUA). Anne acrescenta que subir escadas “obriga a utilizar estabilizadores musculares, como o [músculo] glúteo médio, que normalmente são ignorados nas corridas regulares”.
Esse tipo de treino é ainda mais importante para quem já se aventura nas corridas de montanha. As escadas costumam ser muito mais íngremes que qualquer colina e em geral têm cerca de 65% de inclinação.
Não à toa a frequência cardíaca dispara e sua respiração fica mais rápida para levar mais oxigênio para dentro. “Se você só correr — e não andar — na escada, a sensação é como se estivesse fazendo tiros de 400 metros”, diz o educador físico José Virginio de Morais, melhor corredor de montanha do Brasil. Ele ressalta que, embora esse treino aprimore o VO2 máx — a quantidade máxima de oxigênio que você consegue utilizar durante os exercícios intensos —, para a postura não traz benefícios concretos, já que a amplitude das passadas é bem diferente nas escadas (onde são mais curtas) e no plano.
Um VO2 máx mais elevado significa que você pode correr com mais vigor e por mais tempo. Mas atenção: os treinos em escadas devem ser introduzidos aos poucos, por um profissional de educação física, nas planilhas de quem prioriza o plano nos treinos. “Em geral, as escadas apresentam curvas muito fechadas, o que acaba forçando os joelhos”, diz Virginio. Veja a seguir três maneiras de incluir a escada na planilha e tirar todo o proveito desse tipo de treino.
Para cima e rápido
Algumas provas, incluindo a Empire State Bulding Run-Up, em Nova York, e a Corrida Vertical (que deve acontecer em São Paulo em outubro de 2014), envolvem escalar o mais rápido possível vários lances de escada. Subir acelerando exige bastante potência explosiva, então você rapidamente atinge o limiar anaeróbico (LA), aquele ponto em que o corpo cria mais ácido lático do que consegue processar. “Treinar além do seu LA leva ao aperfeiçoamento deste e a um ritmo mais veloz antes que você sinta ‘queimar’”, diz John Honerkamp, que monitora treinos online para o New York Road Runners.
O TREINO - Após um aquecimento de 10 minutos, suba as escadas a toda por 20 a 30 segundos, depois caminhe de volta para baixo. Repita por 20 a 30 minutos. Ou suba correndo as escadas por 10 minutos após uma corrida longa para ajudar seu corpo a forjar resistência e aprender a vencer a fadiga.
Descida acelerada
Aqui você sobe devagar e desce rapidamente. Isso cria resistência para as corridas regulares, pois exige mais esforço e de forma consistente. É também ótimo para queimar os músculos das panturrilhas, já que você se apoia nos músculos dessa região ao descer os degraus.
O TREINO - Aqueça-se por 10 minutos. Suba escadas por 20 a 30 segundos com esforço de tempo run (treino de ritmo) — desacelerando se necessário para manter um ritmo consistente — e, sem pausar, desça correndo. Repita o ciclo por 30 minutos. Se estiver em um estádio, corra de seção a seção nos topos ou bases dos lances de escada, mantendo esforço de tempo run.
Subida na esteira
Você também pode usar a academia para simular treinos em escadas. “A esteira, programada numa inclinação íngreme, é bastante semelhante a subir escadas correndo, pois você usa muitos dos mesmos grupos musculares para se propelir para cima”, diz Honerkamp. Obviamente, você deve ajustar a velocidade de acordo com a inclinação: pode acabar descobrindo que um ritmo de caminhada rápida é o máximo que consegue aguentar.
O TREINO - Após um aquecimento de 10 minutos, aumente a inclinação (reduzindo o ritmo conforme necessário) para 15% (ou para a maior inclinação que o aparelho tiver: quanto mais alta, melhor). Faça 1 minuto no ritmo mais intenso que conseguir, então reduza à inclinação zero e recupere-se por 1 minuto. Depois faça 2 minutos em inclinação máxima com 2 minutos de recuperação. Amplie gradativamente o tempo (minuto a minuto) até alcançar 5 minutos de cada etapa. Em seguida, faça o caminho inverso para finalizar com 1 minuto intenso e 1 minuto de recuperação.

Sob pressão, livrarias reinventam seu negócio.


Marcas que sempre foram associadas ao varejo tradicional decidiram paralisar a expansão física neste ano para apostar tudo na web

Fernando Scheller, do
Creative Commons
Loja Fnac
Loja Fnac: a empresa, que passa por ajustes aqui e no exterior, conseguiu ter pequeno lucro operacional em 2013, de pouco mais de R$ 2 milhões, apesar da queda de 1% nas vendas
São Paulo - Embora as livrarias brasileiras não tenham enfrentado no mercado local o nascimento de uma loja virtual que em um piscar de olhos passou a dominar o setor, como ocorreu nos Estados Unidos com a Amazon, a regra atual das redes no País é a reinvenção.
Com resultados mais magros em 2013, as livrarias no País não viram outra alternativa a não ser transformar o modelo de negócio para manter um lugar ao sol.
Marcas que sempre foram associadas ao varejo tradicional, por exemplo, decidiram paralisar a expansão física neste ano para apostar tudo na web.
Para ampliar as ocasiões de consumo, grandes lojas estão investindo na criação de modelos compactos - em aeroportos, por exemplo -, com um leque de produtos que vão de eletrônicos a artigos para viagem.
E nem os tradicionais cafés das livrarias, que servem para completar a experiência de compra, foram poupados.
Agora, eles sozinhos não bastam. É preciso atrair restaurantes de chefs renomados para se instalar entre as prateleiras de livros.
Os números do setor livreiro expuseram a necessidade de mudança.
A Fnac, que passa por ajustes aqui e no exterior, conseguiu ter pequeno lucro operacional em 2013, de pouco mais de R$ 2 milhões, apesar da queda de 1% nas vendas.
Já a Saraiva viu a receita crescer 12%, para quase R$ 1,7 bilhão, mas despesas não recorrentes levaram a operação de livrarias a um prejuízo de R$ 16 milhões em 2013.
A Livraria Cultura faturou R$ 450 milhões no ano passado, um crescimento superior a 10%, mas o ritmo de expansão caiu a cerca da metade do visto em 2012.
A Livraria da Vila não revela números, mas fontes afirmam que é pouco provável que seu desempenho tenha sido muito diferente do apresentado pelo restante do setor.
Para Eduardo Seixas, diretor da consultoria Alvarez & Marsal, o esforço de reação das livrarias não está relacionado somente aos desafios específicos do setor, mas a uma tendência que vale para o varejo como um todo neste momento de crescimento mais lento.
Não adianta apenas ter os produtos, é preciso convencer o consumidor a comprá-los.
"As empresas deverão estar preparadas para trabalhar o canal físico e a web de forma complementar", diz. Por isso, as companhias precisam correr para ter lojas mais agradáveis e sites mais eficientes.
Internet
Cientes de que precisam aumentar o faturamento na web, as livrarias Vila e Cultura devem interromper a abertura de lojas em 2014 para investir no online.
O presidente da Livraria da Vila, Samuel Seibel, admite que o site da empresa hoje é amador, o que acarreta em um movimento muito baixo.
A Cultura vai investir R$ 8 milhões em um novo e-commerce que deverá estrear ainda no primeiro semestre, segundo Sergio Herz, presidente da rede e filho do fundador Pedro Herz.
Segundo ele, duas inaugurações de lojas físicas estavam previstas para este ano, mas a rede pretende empurrar a expansão para 2015. "Nosso objetivo é crescer muito no online", diz.
A aposta no e-commerce é uma tendência incentivada por fundos de investimento. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que o escocês Aberdeen Asset Management vendeu a participação de 3,6% que havia adquirido na Saraiva por causa da insistência da administração da rede em abrir lojas físicas, em detrimento de uma aposta mais firme no site.
Procurados, o fundo e a Saraiva não quiseram comentar o assunto.
O investimento na internet, no entanto, não elimina a necessidade de renovação das lojas. Para fazer o dever de casa, a Livraria Cultura vai inaugurar nos próximos meses uma unidade do celebrado restaurante Maní, da chef Helena Rizzo, dentro da sua unidade no Iguatemi, shopping de luxo de São Paulo.
Um espaço ao ar livre para crianças também está sendo planejado. "Hoje a pessoa se pergunta duas vezes antes de ir à loja. Por isso, é necessário oferecer uma experiência interessante ao consumidor", diz Herz.
Diante de iniciativas como essas, a Fnac, pioneira no País nas megastores voltadas à cultura, tem deixado a desejar, apontam especialistas.
Segundo Ricardo Michelazzo, sócio-diretor da consultoria GS&MD - Gouvêa de Souza, as unidades da livraria francesa não evoluíram muito desde a chegada da empresa ao Brasil, no fim dos anos 1990.
Isso reduziu a atração da rede como um destino agradável para o consumidor passar horas de seu dia.
"Tanto é assim que as lojas de shopping são as que têm hoje o melhor resultado", explica Michelazzo. Procurada, a Fnac não quis conceder entrevista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

  

Perca o nome e se torne ícone.

Ousada, a simplicidade no design é a chave para superar as barreiras linguisticas e culturais, enquanto cria uma impressão marcante

Logo da rede Starbucks

Logo da rede Starbucks: uma das ferramentas de comunicação mais poderosas são os símbolos. Para um logo se sair bem em um mercado cada vez mais global, ele deve ser construído com base em duas características principais: ser compreendido pro todos e ser consistente em todos os países. Mas como uma marca transmite toda sua essência para aqueles que falam e escrevem em outra língua? Criando um ícone e deixando que ele fale por si só.No mundo globalizado, uma das ferramentas de comunicação mais poderosas são os símbolos. Pense na sinalização de estrada. É possível viajar por cidades em todo o mundo, pois as imagens das placas são consistentes e universalmente compreendidas.
São Paulo - A sinalização das rodovias ganha ainda mais força por ser visualmente impactante, podemos dizer até memorável. E não é exatamente isso que uma embalagem global busca alcançar? Ousada, a simplicidade no design é a chave para superar as barreiras linguisticas e culturais, enquanto cria uma impressão marcante.
Entre as marcas corporativas, essa tendência está bem estabelecida e conta com uma longa história de sucesso. Uma das primeiras marcas a usar essa estratégia foi a Nike. Sua linha de produtos inovadores, combinada com um marketing agressivo e com o posicionamento que veio sendo consolidado desde os anos 70, ela conseguiu criar uma poderosa ligação mental entre a imagem do Swoosh e o nome da marca.
Com muito capital em sua marca, a Nike sentiu que poderia abandonar seu nome seguindo apenas com o Swoosh em suas campanhas, produtos ou qualquer outra plataforma que o logo pudesse ser aplicado. Embora há um tempo atrás a decisão de retirar o nome da marca de produtos e anúncios seria algo impensável, a Nike consolidou um novo padrão minimalista – que transformou seu logo em um ícone.

No mundo digital, os consumidores encontram ícones em cada clique. Seja um botão que representa uma ação específica, um emoticon que traduza uma emoção ou um logo tradicional elevado a uma representação icônica, as imagens falam mais que palavras na internet – e marcas digitais sabem disso.
Um ícone verdadeiramente bem-sucedido deve ser capaz de, por si só, evocar todas as associações fabricadas que compõe a identidade pública de uma companhia. Apple faz isso. Facebook faz isso. Twitter faz isso. Afinal de contas, como a Nike vem demonstrando, é assim que uma marca se torna onipresente.



Quando o assunto é embalagens, esse fenômeno não deve ser subestimado pelas marcas. Em um tempo onde a tecnologia, o entretenimento e o design são convergentes, ícones simples e sugestivos não chamam só a atenção, eles dirigem o marketing. Pensando em suas embalagens, como as marcas podem se beneficiar da tendência? O aumento das compras pela internet é uma oportunidade.
Hoje em dia, designers de embalagens devem pensar além da prateleira do supermercado e imaginar como seu design pode causar impacto, não apenas no ambiente físico, mas no on-line também. Como as marcas podem transmitir significado e valor mesmo quando a reprodução do produto na tela é muito pequena?
O objetivo é criar um símbolo reconhecível que seja de fácil compreenssão – um ícone que se sustente por conta própria.
Para ter sucesso nesse processo de criação de um ícone, uma marca deve construí-lo significativamente, em suas ações. Isso significa começar com uma ideia consistente de marca, focalizando a essência da marca e capturando essa essência através de um símbolo.
No caminho para se tornar um ícone, marcas que influenciam seus comsumidores por meio de uma simbologia efetiva, causam impacto no PDV, direcionam a escolha, alcançam diferenciação e também conseguem criar consistência e apelo universal em todos os mercados.
Levou 40 anos para a Starbucks retirar seu nome do logo. Quanto tempo vai demorar para as marcas enxergarem os benefícios de um logo sem texto em suas embalagens?


Seja o tempo que for, os ícones transcendem a linguagem, tornando-se a forma de comunicação perfeita para o mundo atual – uma aldeia globalizada que fala diversas línguas, mas que compartilha de símbolos comuns.

domingo, 4 de maio de 2014

Menos refrigerantes para crianças.


Um dado apresentado por pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, revelou algo que muitos já imaginavam, infelizmente. O brasileiro está cada vez menos comendo arroz e feijão. Para piorar, o povo está cada vez mais consumindo refrigerante e cerveja.
A pesquisa foi divulgada em dezembro de 2010, conforme coleta de informações entre maio de 2008 e maio de 2009.
Essa pesquisa não é direcionada às crianças, mas seus efeitos poderão ser facilmente ligados ao público infantil. A razão é simples: pais que se alimentam inadequadamente geralmente oferecem uma refeição saudável aos filhos. Isso não significa que se o pai ingere cerveja, o filho também consumirá. Longe disso.
Mas a criança é uma "esponjinha" dos pais. Ou seja: tendem a copiar as atitudes dos pais. Se o pequeno sentar à mesa e notar que os pais comem com gosto uma maçã ou uma salada bem temperada ou então bebem um suco de laranja fresquinho, a chance de a criança se interessar por esses hábitos saudáveis é grande.
Agora um pai que traz refrigerante ou alimentos "engordativos" para casa estará contribuindo para alimentação ruim das crianças.
Tudo bem, de vez em quando é uma delícia beber refrigerante. É barato, fácil de encontrar e prático para beber (não precisa descascar ou coar), e é ótimo acompanhamento para pizzas e outras coisas. Mas o consumo diário de refrigerante é prejudicial às crianças.
Um copo cheio de refrigerante, por exemplo, contém em média de 80 a 100 calorias. Uma bomba principalmente para crianças com problemas ligados à obesidade.
É verdade que um copo com suco de laranja é tanto quanto calórico (90 calorias, em média), mas o suco fornece inúmeras propriedades nutritivas, como vitaminas e minerais. O refrigerante é paupérrimo em nutrientes.
O excesso de refrigerantes pode aumentar o risco de diabetes tipo 2, devido à grande quantidade de açúcar. Não à toa, a obesidade e diabetes tipo 2 aumentaram nos Estados Unidos, maiores consumidores de refrigerante.
Lembrem-se, pais: seu filho vê você como um "super-heroi". O que você fizer ele certamente achará o máximo. Portanto, não seria interessante você dar bons exemplos alimentares ao seu filho?
Bruno Rodrigues

Novos velórios tornam-se eventos sociais cercados de luxo e glamour.




Casa de festas? A sede da Funeral Home, no bairro paulistano da Bela Vista, onde há manobristas e salas com decoração temática que alude a Paris e Nova York
Foto: Divulgação / Divulgação

Casa de festas? A sede da Funeral Home, no bairro paulistano da Bela Vista, onde há manobristas e salas com decoração temática que alude a Paris e Nova York Divulgação / Divulgação
Diante da morte, somos todos iguais, diz a sabedoria popular. Mas uns são mais iguais que os outros. Empresas especializadas em funerais personalizados e de luxo se espalham pelo país, fornecendo decoração suntuosa, carro importado para o transporte do féretro e até lembrancinhas para os “convidados”. A tendência, originada nos EUA, ganha força sobretudo em São Paulo.
É na capital paulista que funciona a Funeral Home, aberta em 2008. A empresa ocupa um casarão tombado na Bela Vista com quatro salas para velórios com decorações temáticas, inspiradas em cidades como Paris e Nova York. Os que vão se despedir de alguém ali contam com manobrista na entrada e ganham mimos na saída. Já houve quem optasse pelos tradicionais santinhos, por flores e até por um doce batizado de bem-velado, versão fúnebre do bem-casado. As famílias podem escolher três diferentes tipos de bufê. E a empresa organiza também cerimônias em outros lugares, como a casa do morto. É o velório delivery.
- Sempre viajei bastante e observava esse tipo de cerimônia em outros países. Nossa ideia não é só oferecer luxo, mas também segurança e conforto - afirma Milena Toscano, diretora da empresa.
Em seu site, a Funeral Home apresenta, entre suas “missões”, atender quem deseja homenagear a memória de um membro da família. A deferência à pessoa morta é, aliás, o principal objetivo dos familiares ao escolher velórios personalizados, argumentam empresários do segmento.
- Em um momento tão especial, é importante ter um ambiente amigável. A arquitetura funerária, antes vista como pesada, se modernizou - defende o empresário Lourival Panhozzi, no mercado há 39 anos.
Sócio da Prever, de assistência familiar, e presidente da Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário, Panhozzi calcula que as companhias que oferecem serviços customizados correspondem a 15% do total de 5.500 negócios no país.
Pacotes de até R$ 20 mil
O empresário construiu o Complexo Funerário Orlando Panhozzi, de 3.500 metros quadrados, em Botucatu (SP). Lá são realizadas cerimônias que custam até R$ 20 mil e incluem salas reservadas a parentes do morto, serviço de bufê e carro funerário com luz de LED. Música clássica, em geral, e sucessos da cantora new age Enya são as principais pedidas de familiares quando se trata da trilha sonora que acompanha o transporte do corpo até o cemitério, conta Panhozzi, que recorre ao filósofo Heráclito para explicar o seu negócio:
- Ninguém entra duas vezes no mesmo rio. Quando mergulha pela segunda vez, a pessoa já se modificou. É assim também com quem vai a um velório. Esperamos que dali saia um pessoa diferente, melhor.
Outra referência no segmento é Maria Aparecida Lima. Conhecida como promoter de funerais, ela está à frente da Pax Apoio Familiar, em São Paulo. Entre as solicitações de clientes que já atendeu, estão música ao vivo, tapete persa e até pétalas de rosa lançadas por um helicóptero.
- Em alguns casos, trata-se de realizar um último desejo do falecido afirma. - Um dos únicos pedidos que não consegui atender foi o de um homem que queria pés de cana e limão sobre o seu túmulo. Em vida, ele brincava que, assim, poderia fazer caipirinhas eternamente. O cemitério não autorizou.
Se empresários do setor defendem que a personalização dos velórios é uma forma de demonstrar afeto pelo falecido, antropólogos analisam as cerimônias como sintomas da sociedade de consumo e individualismo.
‘É consumismo’, diz antropólogo
- Uma das características da sociedade contemporânea é a individualização. Cada vez menos as pessoas se conformam em ser tratadas como qualquer um. E os empresários da área funerária descobriram o filão - observa o antropólogo José Carlos Rodrigues, professor da PUC-Rio, que sugere ainda que a espetaculização dos funerais está relacionada a estratégias de dissimulação e descaracterização da morte.
Professor de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG), Rogério Bianchi de Araújo também critica o modelo. Segundo ele, a sofisticação dos funerais é produto da valorização excessiva das aparências.
- Estamos imersos numa sociedade de consumo, e até a morte passa por isso - avalia. - É o mundo da imagem, em que a estética supera a ética. Acho que a homenagem fica num segundo plano ou atrelada a uma lógica de mercado. É a homenagem esteticamente produzida.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/novos-velorios-tornam-se-eventos-sociais-cercados-de-luxo-glamour-12374769#ixzz30nJvPV8W 
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