quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Maradona, passeio completo ou esporte fino.

Nunca havia visto Maradona de terno e gravata. Não lhe caiu bem o traje para a sonhada festa de gala - a vitória mundial da seleção argentina, sempre temida pela beleza e eficiência do seu futebol. Sua roupa ora apertada ora folgada, sempre deselegante e incômoda, diminuiu certamente o brilho de sua exibição pessoal. Ator autodidata de ópera-bufa, emudecido pelo talento alemão, voltou para casa, com quatro bolas na caçapa, sem mostrar mais do que alguns arranhões em um ego imensurável.
Deus, como se considera, achou que sua benção seria o bastante para divinizar os seus pupilos. Viu-se um efeito contrário; os jogadores argentinos tradicionalmente virtuosos e imaginativos viram-se perdidos e goleados pela jovem, brilhante e pragmática seleção alemã, restando-lhes apenas os beijos e abraços de “su papá”.
Dunga jogador combativo e sério, alvo de severas críticas, como acontece com todos os técnicos brasileiros é, sem dúvida melhor treinador do que Maradona que, no seu delírio narcísico, não pode ver uma câmera ou um microfone sem que, imediatamente, não lhe venha na ponta da língua uma besteira qualquer. Acho que o futebol argentino, um dos melhores do mundo, não merece participar desse circo. Lembro-me, entre tantos ídolos, de Menotti, argentino de boa cepa, elegante por dentro e por fora, craque culto e inteligente, que só conheci como treinador.
Enquanto treinava a seleção argentina que viria a se tornar campeã do mundo, instalou uma biblioteca na concentração, “obrigando” os jogadores a lerem. No seu livro “Futbol sin trampa” afirma que “através do modo como faço jogar minhas equipes, eu falo da sociedade em que gostaria de viver utilizando o futebol como uma forma de expressão de valores como a estética, a beleza e o fair-play, com jogadores solidários”. Muito embora se procure um futebol de resultados, há modos de conquistá-lo. É quando se vê em um extremo, a grande figura de Menotti e em outro o patusco Maradona. Precisamos deixar de cair de pau em Dunga. Ele fez o seu trabalho com acertos e erros, como todos os técnicos que comandaram as seleções brasileiras através do tempo, desde Flávio Costa na década de 50 até os dias atuais.
Claudio Coutinho, precocemente desaparecido, afável, culto e sabendo tudo sobre futebol – não é dele a expressão ponto futuro? - sequer cogitou Falcão, ainda jovem e já considerado um dos maiores jogadores, para no seu lugar convocar Chicão, muito mais conhecido pelo modestíssimo futebol e exuberante truculência.
Acompanhei praticamente todos os jogos da Copa. Observei, entre tantos jogadores, Kaká e Cristiano Ronaldo, ambos craques de verdade. Enquanto que o primeiro jogava a sério e para a equipe, o jogador português mostrava-se clara e infantilmente voltado para os telões, preocupado com o arranjo do cabelo ou da camisola, com seu glamour afinal. Dunga, Kaká e companhia, simples mortais, erraram certamente, mas não do modo caricatural de Maradona e Cristiano Ronaldo, cada qual mais preocupado em insuflar o próprio ego.
El Diez, como é chamado em seu belo país, e Cristiano Ronaldo, tal como se mostraram, para mim representam o antifutebol, porque seja em uma pelada de várzea ou em um jogo importante e decisivo, ao lado do indispensável talento pessoal é preciso lembrar que o futebol é um esporte coletivo e solidário, não havendo tempo e lugar para exibições teatrais ou retoques na maquiagem.

Por Edgar Porto
Email: edgard.porto@ofluminense.com.br

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