A tentação de ULISSES.
Stephen Bertman em seu livro OS OITO PILARES DA SABEDORIA GREGA, narra a história de que voltando para casa depois do fim do combate, Ulisses naufragou na ilha da deusa Calipso. Lá, os dois se apaixonaram. Tropical e luxuriante, a ilha era lugar remoto, um verdadeiro paraíso onde ninguém mais vivia.
Calipso sabia que Ulisses, por ser mortal, algum dia iria morrer e que ela ficaria sozinha novamente. Por isso, a bela deusa lhe deu a chance de conquistar a vida eterna, oferecendo-lhe néctar e ambrosia, os alimentos dos deuses. Se aceitasse a oferenda, Ulisses estaria livre da morte e viveria para sempre, desfrutando os prazeres dos sentidos ao lado dela.
Semanas depois de sua proposta, no entanto, ela o encontrou chorando na praia, o olhar perdido no horizonte, tentando avistar o lar de onde partira fazia 20 anos. Não era exatamente por sua casa que chorava, nem por saudade da mulher, nem pelo filho que deixara ainda criança e que se tornara adulto durante os longos anos que Ulisses passara na guerra e no mar. Chorava por saber que precisavam dele para corrigir os erros que tinha afetado o seu reino nos anos em que estivera fora. Somente se voltasse poderia se tornar outra vez marido, pai e rei, agindo como só ele poderia agir, ocupando o vazio que deixara ao partir.
Ulisses recusou a oferta de Calipso de se tornar um deus e escapar da morte, pois escolher viver ali significaria desistir da vida. Naquela ilha paradisíaca, onde tudo seria previsível e seguro, disponível e gratuito, uma coisa estaria faltando: um futuro no qual ele pudesse se atirar de corpo e alma.
Os gregos acreditavam que, durante a vida, o objetivo dos homens é terminar uma tarefa incompleta, e que é essa missão – mesmo que vagamente percebida – que atribui o significado à nossa existência, qualquer que seja o perigo.
Calipso ofereceu a Ulisses tudo o que ele era, mas lhe negou tudo o que ele poderia vir a ser. Naquela ilha exuberante porém deserta, um deus poderia viver, mas não um homem. Não por acaso a deusa se chamava Calipso, nome que significa “aquela que esconde “, pois, se seu amado decidisse ficar e viver com ela para sempre, teria ficado escondido – dos outros mas também de si mesmo, daquele que poderia vir a ser.
No fim, não foi em busca de seu lar que ele partiu, carregado pelas ondas numa jangada, mas daquilo que poderia ser tornar. Observando-o se afastar pouco a pouco, remando lentamente, até Calipso entendeu a escolha que Ulisses fez.
Nota: Este artigo foi escrito por Carlos Luppus com adaptações do livro: Os Oito Pilares da Sabedoria Grega, de Stephan Bertman
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